sábado, 24 de maio de 2014

Perrengue no Monte Camapuã!

Tucum, Itapiroca, Caratuva e Pico Paraná entre as nuvens...

Desde a memorável saga no Pico Ciririca, o setor Ocidental da Serra do Ibitiraquire desperta o meu respeito e apreço. Neste contexto, o Camapuã, o Tucum e o Cerro Verde são excelentes pontos de conexão com a notável beleza cênica de nossas Montanhas.

26 de Dezembro de 2012. Enfim, era chegado o momento de retornarmos ao Templo. Saí de casa às 9:00 da manhã. Pela ordem, o primeiro a embarcar foi o Frater Marcos Huss e uma hora após, Rubens Negrão. Chegamos ao mercado, ainda em Rolândia, às 10:00 hrs.

Finalmente caímos na estrada perto das 11:oo. O adiantado da hora me causava ansiedade, apesar das tranquilizações do Rubão. A viagem transcorreu bem até Ponta Grossa, quando em Vila Velha caímos em um estafante congestionamento...

Entre um cigarro e outro, rodamos de Lobão à Pink Floyd, Red Hot à Ramones... O relógio girava e a inquietação aumentava. Também é verdade que os engarrafamentos nos ensinam que o mundo é pequeno e nos reaproximam de amigos de outros tempos... 

Eis que olho para o carro ao lado e revejo um querido colega de Direito na UEL, Fernando Toledo, há mais de dez anos na Polícia Rodoviária Federal. Conversamos: Faculdade, filhos, casamento quando resolvi perguntar qual era a dimensão do engarrafamento...

Para a frustração de todos, Toledo nos informou que a coisa iria longe e que a rodovia provavelmente estaria congestionada até Curitiba, mais precisamente até as saídas para o Litoral. Foi um balde de água fria para nossas esperanças de logo acelerar novamente!

Infelizmente as previsões pessimistas de meu amigo estavam corretas e às 16:3O hrs, em Curitiba, ainda presos no interminável engarrafamento já cogitávamos a frustante possibilidade de montarmos acampamento aos pés da Serra, na Fazenda da Bolinha...

Pegamos a BR 116 livre às 17:00 e aceleramos firme rumo à Campina Grande do Sul. A Pajero do meu pai (nossos sinceros agradecimentos) nos brindou com uma bela performance e estacionamos perto das 18:00 hrs. Fechamos "a cara" e caímos na trilha...

Em poucos minutos encarnamos o espírito da Tropa Cana Dura "do mato" e suávamos sem hesitação. Era minha segunda vez naquela trilha e algumas recordações do Ciririca me auxiliavam nos momentos de rápidas hesitações. Com alívio chegamos a Figueira...

A cada clareira que encontrávamos avaliávamos a posição do sol e cogitávamos armar acampamento. Mas ainda havia tempo. A bifurcação estava próxima, eu apostava. Meus amigos confiavam. Com alívio às 18:30 alcançávamos a bifurcação do Tucum...

Expliquei para eles que dali para frente não sabia de nada. Colocamos o assunto em assembléia e decidimos tocar em frente. Corríamos. Suávamos. A luminosidade diminuía. A ansiedade aumentava. Dava graças a Deus quando percebia que a vegetação mudava...

Mudava, de espécies e porte. Diminuía! Comentei com o Rubão que me seguia com os olhos estalados que a qualquer momento chegaríamos aos Campos de Altitude. O Rubão avisava o Marcão que nos seguia bravamente. O sol fraquejava e a floresta escurecia...

Nos Portões do Crepúsculo alcançamos os Campos de Altitude. Frio. Ventava. Tempo esquisito. A frente fria que havíamos desprezado estava dando mostras de que poderia apimentar nossa empreita. Pausa: O pano de fundo foi o Sete, Marumbi e o Ciririca!

Ao fundo: Mãe Catira, Sete e Conjunto Marumbi.

Mas não havia tempo para hesitações. O sol desaparecia no horizonte, a garoa se iniciava e o vento aumentava. Decidimos parar poucos minutos após deixarmos a floresta montando acampamento às pressas já sob chuva, vento e frio. Novo teste para as "paraguaias"...

Não havia ninguém na Montanha e aquilo, para mim, era mais um sinal de que um Ciririca de menores proporções se avizinhava... Rapidamente, montamos as barracas. Eu fui para a do Marcão, a melhor das paraguaias. Lanche, tabacco de montanha e o céu fechou...

Dialogamos por algum tempo, recordamos os fogos de conselho, as Montanhas da vida e lá pelas 21:00, sob chuva, frio e condensação decidimos buscar refúgio, cada um, em seu Teatro Mágico particular... Afinal, cada um de nós têm sua leitura pessoal de Hesse.

Milagrosamente consegui dormir antes do Marcão e acordei lá pelas 24:00. Decidi sair da Barraca para mijar, o Marcão ainda roncava e, para minha surpresa o céu estava estrelado. A metrópole de Curitiba era um espetáculo de luzes... Acordei meus "comparsas"...

Saímos todos das barracas para apreciar aquele espetáculo de luzes e um cigarrinho, quando a umidade voltou a preencher o cenário, logo convertendo-se em vento e chuva fria. Retornamos às barracas e, felizmente, peguei no sono novamente.

Despertei com os primeiros pássaros da alvorada e logo saí da barraca. Tentei acordar os Frateres que ainda estavam exaustos dos perrengues enfrentados no dia anterior. Com o primeiro raiar de luminosidade no firmamento iniciei a subida ao cume do Camapuã.

Após quinze minutos estava no cume, avistando um Mar de Nuvens típico de inverno, descortinando os cumes do Sete, Marumbi, Ciririca, Tucum, PP, Itapiroca e Caratuva. Logo as Arapongas cantariam a plenos pulmões e os comparsas apareceriam.

Mas o tempo dava sinais de que iria se fechar novamente. Quando meus Irmão de Montanha chegaram só dava para ver o cume do Tucum, com nuvens revoltosas quase a cobri-lo. Instei-os a rumar ao Tucum, mas o tempo adverso e o stress do dia anterior pesaram...

Pausa para fotos, cigarrinho e decidimos retornar. O tempo piorava e apressados desmanchamos o acampamento. Caímos na trila com a mesma ênfase do dia anterior. Tudo caminhava bem quando comecei a achar que estávamos na trilha para o Ciririca...

O pessoal (eu inclusive), no início, julgávamos ser uma brincadeira de mal gosto de um outro eu... Mas, não: As horas passavam e a trilha parecia cada vez mais distante... Ciririca? Nem pensar! Não estávamos em condições, chovia e era domingo. Voltar? Continuar?

Precisávamos ter certeza de que estávamos errados. Chegamos ao Salto do Professor e ali reafirmei minhas convicções de que estávamos indo para o Ciririca. Logo o Marcão encontrou gravado a canivete a prova final: Ciririca apontando no sentido oposto!

Novamente situados, batemos em retirada. Após uma hora de caminhada é que fomos encontrar a placa da bifurcação Tucum - Ciririca e continuar a descida... Descemos firmes até a figueira de dois troncos (tradicional ponto de referência da trilha)...

Chegamos ao carro às 15:00 hrs. Paramos no tio Doca, comemos uns salgados e decidimos tocar em frente. O trânsito não era bom, mas estava bem melhor que no dia 26. Jantamos no Panorâmico e tocamos direto para Rolândia, cansados, mas sem novos imprevistos... E assim chegou ao fim, às 01:3o da matina, mais uma empreitada dos Espíritos Livres!

Cenário de inverno em pleno verão: Cume do Camapuã.

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